quarta-feira, 6 de abril de 2016

E se fosse eu? Na pele de um refugiado


O desafio foi lançado. A escola aceitou e pediu às crianças que colocassem numa mochila aquilo que levariam caso fossem um desses refugiados que, a toda a hora, vemos na televisão agarrados aos poucos pertences que têm. Pouco era aqui palavra de ordem, uma vez que a mochila não era grande.

O tema causa-lhe alguma confusão. Embora perceba o que se passa, o seu sentido de justiça social é incompatível com o que se passa nos nossos dias. E vai-lhe causar dissabores. Vários. Não entende, na sua ingenuidade infantil, porque é que aquelas crianças são forçadas a viver nas condições que os telejornais nos mostram à hora das refeições. Não percebe porque não lhes podemos abrir as portas e garantir-lhes o conforto que é seu por direito.

Mas adiante. Escolher de todas as coisas que tem, que percebeu que afinal são mesmo muitas, podia ser uma tarefa difícil. Mas ele não a entendeu assim. E na mochila colocou:

- uma escova e pasta de dentes, em nome de uma higiene oral que se quer cuidada (percebi que a minha insistência e constantes palestras sobre o tema não têm sido em vão);
- uma muda de roupa;
- um saco cama e uma almofada;
- um livro (queria mais, mas não cabiam);
- uma garrafa de água;
- bolachas;
- o boneco que come os medos (um pequeno peluche), já a prever que medo, isso ia haver bastante.

E pronto. Nem tablet, nem playstation, nem brinquedos. E não foi por falta de lhe perguntar se não os queria levar. A preocupação dele era com a alimentação e com as dormidas. Não com o lazer.