quinta-feira, 21 de julho de 2016

Ser mãe...


Ser mãe é apanhar sustos. É andar, não raras vezes (ou sempre), com o coração nas mãos. É estar feliz quando ele está feliz e não conseguir evitar sentir as tristezas dele com ainda mais intensidade. Ser mãe é sofrer, já dizia alguém. E ainda que as palavras as leve o vento, ser mãe é mesmo isso.

Ser mãe é ter de engolir as lágrimas quando aquilo que mais apetece é desfazer em tristeza; é aparentar calma quando o corpo todo treme; é assegurar-lhe que vai correr tudo bem quando alguém nos diz que ele está doente e que vai ter que ficar internado.

Ser mãe é estar dias sem comer e nunca sentir fome; é estar dias sem dormir sem nunca sentir sono; é mascarar uma enorme tristeza, o medo, a ansiedade. Por ele.

Ser mãe é apenas conseguir respirar quando o médico nos garante que tudo vai ficar bem. Ser mãe é chorar, chorar muito, de tristeza, dor, alívio.

terça-feira, 7 de junho de 2016

Mensagem num guardanapo II


Qual filme romântico (mas com protagonistas bem mais velhos que estes, que não têm mais de oito anos), ele respondeu-lhe. Pegou no guardanapo onde ela tinha escrevinhado o seu mail e enviou-lhe uma mensagem.
Durante dias, não houve resposta. E ele, ainda que não quisesse dar parte fraca, perguntava-me como é que podemos saber se enviamos um mail para a morada errada e inventava desculpas para consultar a sua caixa de email quase diariamente.
Até que a resposta chegou. Uma frase apenas:
"Olá, G. Podes enviar-me uma fotografia tua para eu mostrar a uma amiga?"


segunda-feira, 16 de maio de 2016

Mensagem num guardanapo


Parecia uma cena saída de um filme: na hora da despedida, ela, com oito anos, pede-lhe uma caneta, que ele, com oito anos também, se prontifica a arranjar. Depois, escrevinha qualquer coisa num guardanapo de papel e dá-lhe. Ele guarda-o no bolso e dizem adeus, no final de uma manhã de animada brincadeira a dois.

Eu, que vi tudo ao longe, e roída pela curiosidade, pergunto-lhe:
- O que é isso?

Ele põe a mão no bolso, tira o guardanapo, cuidadosamente dobrado, e dá-me. Nele encontrava-se escrito o endereço de mail dela.



quarta-feira, 6 de abril de 2016

E se fosse eu? Na pele de um refugiado


O desafio foi lançado. A escola aceitou e pediu às crianças que colocassem numa mochila aquilo que levariam caso fossem um desses refugiados que, a toda a hora, vemos na televisão agarrados aos poucos pertences que têm. Pouco era aqui palavra de ordem, uma vez que a mochila não era grande.

O tema causa-lhe alguma confusão. Embora perceba o que se passa, o seu sentido de justiça social é incompatível com o que se passa nos nossos dias. E vai-lhe causar dissabores. Vários. Não entende, na sua ingenuidade infantil, porque é que aquelas crianças são forçadas a viver nas condições que os telejornais nos mostram à hora das refeições. Não percebe porque não lhes podemos abrir as portas e garantir-lhes o conforto que é seu por direito.

Mas adiante. Escolher de todas as coisas que tem, que percebeu que afinal são mesmo muitas, podia ser uma tarefa difícil. Mas ele não a entendeu assim. E na mochila colocou:

- uma escova e pasta de dentes, em nome de uma higiene oral que se quer cuidada (percebi que a minha insistência e constantes palestras sobre o tema não têm sido em vão);
- uma muda de roupa;
- um saco cama e uma almofada;
- um livro (queria mais, mas não cabiam);
- uma garrafa de água;
- bolachas;
- o boneco que come os medos (um pequeno peluche), já a prever que medo, isso ia haver bastante.

E pronto. Nem tablet, nem playstation, nem brinquedos. E não foi por falta de lhe perguntar se não os queria levar. A preocupação dele era com a alimentação e com as dormidas. Não com o lazer.   

quinta-feira, 31 de março de 2016

Vontade de ir à casa de banho


Parece que é de propósito: todas as vezes que vamos às compras, lá vem ele com a vontade de ir à casa de banho. E a maior parte das vezes para fazer o serviço número 2. Confesso que me irrita. E muito. E com razão, já que os WC públicos podem ser muita coisa, mas nada de bom.
Naquele dia não foi diferente. Estávamos na Fnac, a ver as novidades literárias, quando ele me informa que tem que ir à casa de banho. Saltou-me a tampa.
- É sempre a mesma coisa. Já viste que todas as vezes que saímos tu tens vontade de ir à casa de banho? Não há paciência!

Ele parou. Olhou para mim e, sempre sem perder a calma, respondeu:

- Eu gritei contigo? Por acaso falei-te mal ou chamei-te nomes?
- Não - disse eu, surpreendida com a pergunta. - Mas eu também não tem chamei nomes, não gritei ou tratei mal. Só que já estou num pouco cansada desta coisa de ir às casas de banho públicas.
- Olha, fala com o meu corpo. Isto é uma coisa natural e eu não posso evitar. Por isso, não sei o que te diga. Mas que estou cheio de vontade, estou.

Eu calei-me. Tive de me calar. É deprimente quando os argumentos dele, com apenas oito anos, me tiram o pio.

Colinho bom


- Ser bebé deve ser muito bom. Mesmo muito bom! - diz ele, logo após um grande suspiro.
- Ai sim? Porquê?
- Porque os bebés podem ter colo quando querem. Já eu... Estão sempre a dizer-me que sou muito velho para isso.
- O problema não é a idade, é o peso. - disse-lhe eu, desta feita sem ter que esticar a verdade. É que os 25 quilos que a balança assinala já deixam marca.
- Pois, isso é o que tu dizes. E sabes o que é que eu digo? Que tens que ficar em forma para poderes pegar em mim.

terça-feira, 15 de março de 2016

Cristas, a temporária

Depois do discurso da vitória de Assunção Cristas, nova líder CDS-PP, ele olha e vaticina, com toda a certeza de oito anos de muita atenção à política:

- Esta não dura um mês.