quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A melhor actriz

Às vezes surpreendo-me com os meus dotes de actriz ou com a minha capacidade para ser dissimulada e cínica, diria alto e bom som a voz da minha consciência. Hoje cruzei-me com uma cara que faz parte de um passado que era suposto estar enterrado. Eu de um lado da rua, ele do outro, os nossos olhares encontraram-se e, por instantes, ainda pensei fingir que não via, olhar para o lado e seguir caminho. Ele não fez o mesmo. Chamou-me e lá nos cumprimentámos e trocámos as palavras do costume:
- "Por aqui? Há quanto tempo!"
- "Pois é. Tudo bem?"
- "Sim e contigo?"
- "Também."
Depois o silêncio constrangedor, aquele que, no meu caso queria mesmo dizer que não havia mais nada para falar. Aliás, nunca houve e aquela personagem estava bem era onde eu a tinha deixado, no fundo da memória, soterrada por montes de recordações transformadas em escombros. Mas consegui manter o sorriso, ainda que amarelado, quando aquilo que queria mesmo era fugir. Consegui fazer um ar simpático q.b., cordial, bem diferente das palavras amargas que lhe costumava dirigir que, quase de certeza, ele se lembra bem. Eu lembro-me, dessas e de outras. E vou-me lembrar desta, quando encarnei o papel de simpática e fingi, fingi, fingi...

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