No dia de Natal, a caminho de casa e imbuída do espírito da época, alicerçado nas muitas músicas natalícias que saíam do rádio do carro, decidi começar a cantar. É certo que não sou conhecida pelos meus dotes vocais, mas do banco de trás vieram comentários pouco simpáticos à minha performance. Eu continuei e ele também.
- Qual é o teu problema? - perguntei-lhe eu.
- Pára, estás a dar-me dor de cabeça.
- Eu sou livre para fazer o que quiser e agora quero cantar. Por isso... - disse-lhe eu, pensando que os seus sete anos não lhe conseguiram alimentar uma resposta.
- Salazar, volta Salazar.
- Como? - perguntei eu.
- Sim, no tempo do Salazar não tinhas liberdade. Por isso não podias cantar.
Calei-me.
domingo, 28 de dezembro de 2014
segunda-feira, 1 de dezembro de 2014
E com esta é que me lixaste
- Quando é que vais escrever a carta ao Pai Natal? - perguntei-lhe eu.
- O Pai Natal não existe. Até a professora já disse isso. - respondeu ele, com a certeza que os seus 7 anos lhe conferem.
- Olha, eu acho que a tua professora está errada. O Pai Natal é mágico e isso significa que, se acreditares, ele existe. O que é que tu achas?
- Eu acho que ele não existe... mas não tenho a certeza absoluta.
- Então porque é que não escreves uma carta. Aposto que ele te vai responder.
- Está bem.
E lá foi ele, decidido a contactar com o Pai Natal, para minha grande alegria. Regressa, meia hora depois, com uma folha cheia de prosa.
- O que é isto? - pergunto eu, incrédula com o tamanho da lista, composta por várias dezenas de artigos que ele retirou dos muitos catálogos de supermercados que nos têm enchido a caixa do correio.
- É a minha lista. E agora é que eu vou saber mesmo se existe o Pai Natal!
- Como assim? - perguntei eu a medo.
- Se ele não me trouxer tudo o que eu pedi é porque não existe.
Aqui, percebi que ele já me tinha lixado. Ainda tentei remediar a situação, convencê-lo que o Pai Natal não é rico, que lhe doem as costas e não pode trazer muito peso. Mas ele foi irredutível. E foi assim o fim do Pai Natal lá em casa.
- O Pai Natal não existe. Até a professora já disse isso. - respondeu ele, com a certeza que os seus 7 anos lhe conferem.
- Olha, eu acho que a tua professora está errada. O Pai Natal é mágico e isso significa que, se acreditares, ele existe. O que é que tu achas?
- Eu acho que ele não existe... mas não tenho a certeza absoluta.
- Então porque é que não escreves uma carta. Aposto que ele te vai responder.
- Está bem.
E lá foi ele, decidido a contactar com o Pai Natal, para minha grande alegria. Regressa, meia hora depois, com uma folha cheia de prosa.
- O que é isto? - pergunto eu, incrédula com o tamanho da lista, composta por várias dezenas de artigos que ele retirou dos muitos catálogos de supermercados que nos têm enchido a caixa do correio.
- É a minha lista. E agora é que eu vou saber mesmo se existe o Pai Natal!
- Como assim? - perguntei eu a medo.
- Se ele não me trouxer tudo o que eu pedi é porque não existe.
Aqui, percebi que ele já me tinha lixado. Ainda tentei remediar a situação, convencê-lo que o Pai Natal não é rico, que lhe doem as costas e não pode trazer muito peso. Mas ele foi irredutível. E foi assim o fim do Pai Natal lá em casa.
quinta-feira, 6 de novembro de 2014
Não me digas que acreditas no Pai Natal
A falta de tempo impede um registo à altura das pérolas que lhe saem da boca. Algumas ficam registadas em guardanapos, antigas faturas, folhetos de publicidade ou qualquer outro pedaço de papel que esteja à mão. É pena. Porque as recordações são importantes. Porque há momentos que, por mais que queiramos, não voltam a repetir-se.
Recuperei estes dois, esquecidos numa mala.
"Tenho uma vida abebezada. É uma vida em que não fazemos coisas de jeito. Queria ter aventuras, encontrar um ladrão, chamar a polícia e e vê-los prendê-lo. Depois ia a correr para casa."
---------------
No meio de uma sessão de leitura do 'Diário de um Banana' descobriu que o marcador que usava para não se perder nas páginas era um cartão com informação sobre todos os dias mundiais e nacionais das doenças.
- O que é a osteoporose? - perguntou sem perder tempo.
- É uma doença - respondi eu, sem lhe dar grande conversa.
- Porque é que não festejamos este dia?
- Não se festejam os dias das doenças. Assinalam-se, para que não nos esqueçamos que é importante lutar contra elas.
- Podemos celebrar esses dias cá em casa? Acho que devíamos fazer uma festa para cada doença. Fazíamos um jantar e convidávamos as pessoas.
- Não me parece - respondi eu, sem saber bem porque é que continuava a alimentar aquele delírio.
- O que é o cancro? - voltou ele à carga.
- É uma doença em que as células do nosso organismo se descontrolam.
- E mata?
- Sim, pode matar.
- A Diana diz que se atarmos um elástico à volta do dedo podemos ter cancro. Depois, tomamos um medicamentos e cai-nos o cabelo.
- Isso não acontece.
- Mesmo se apertarmos com muita força? - disse, ele muito desconfiado.
- Sim, mesmo se apertarmos com muita força.
- E quero ter 17 filhos. - Não sei bem como, nem porquê, passámos de uma conversa para outra sem intervalo.
- 17? Vais ter que arranjar uma casa muito grande!
- Vou viver num apartamento, no Porto.
- Mas vais ter que ter muitos quartos.
- Não, eles dormem em sacos cama, no chão. Espera lá, isto de ter filhos é só dizer que se quer ter e eles aparecem? Ou tem que se ir ao médico pedir um?
Aqui, decidi que era hora de ir dormir.
- Sim, sim, isso. Até amanhã.
- Estás-me a ignorar? - perguntou ele.
- Claro que não, mas já é tarde.
A conversa ficou por ali. No dia seguinte, voltou à carga, desta feita junto do pai, a quem fez a pergunta da praxe: como é que se tem um filho.
O pai respondeu com a também típica resposta da sementinha, mas com um twist final: o pai coloca uma semente na mãe e depois vem a cegonha e traz o bebé.
- Cegonha? Não me digas que também acreditas no Pai Natal!
Recuperei estes dois, esquecidos numa mala.
"Tenho uma vida abebezada. É uma vida em que não fazemos coisas de jeito. Queria ter aventuras, encontrar um ladrão, chamar a polícia e e vê-los prendê-lo. Depois ia a correr para casa."
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No meio de uma sessão de leitura do 'Diário de um Banana' descobriu que o marcador que usava para não se perder nas páginas era um cartão com informação sobre todos os dias mundiais e nacionais das doenças.
- O que é a osteoporose? - perguntou sem perder tempo.
- É uma doença - respondi eu, sem lhe dar grande conversa.
- Porque é que não festejamos este dia?
- Não se festejam os dias das doenças. Assinalam-se, para que não nos esqueçamos que é importante lutar contra elas.
- Podemos celebrar esses dias cá em casa? Acho que devíamos fazer uma festa para cada doença. Fazíamos um jantar e convidávamos as pessoas.
- Não me parece - respondi eu, sem saber bem porque é que continuava a alimentar aquele delírio.
- O que é o cancro? - voltou ele à carga.
- É uma doença em que as células do nosso organismo se descontrolam.
- E mata?
- Sim, pode matar.
- A Diana diz que se atarmos um elástico à volta do dedo podemos ter cancro. Depois, tomamos um medicamentos e cai-nos o cabelo.
- Isso não acontece.
- Mesmo se apertarmos com muita força? - disse, ele muito desconfiado.
- Sim, mesmo se apertarmos com muita força.
- E quero ter 17 filhos. - Não sei bem como, nem porquê, passámos de uma conversa para outra sem intervalo.
- 17? Vais ter que arranjar uma casa muito grande!
- Vou viver num apartamento, no Porto.
- Mas vais ter que ter muitos quartos.
- Não, eles dormem em sacos cama, no chão. Espera lá, isto de ter filhos é só dizer que se quer ter e eles aparecem? Ou tem que se ir ao médico pedir um?
Aqui, decidi que era hora de ir dormir.
- Sim, sim, isso. Até amanhã.
- Estás-me a ignorar? - perguntou ele.
- Claro que não, mas já é tarde.
A conversa ficou por ali. No dia seguinte, voltou à carga, desta feita junto do pai, a quem fez a pergunta da praxe: como é que se tem um filho.
O pai respondeu com a também típica resposta da sementinha, mas com um twist final: o pai coloca uma semente na mãe e depois vem a cegonha e traz o bebé.
- Cegonha? Não me digas que também acreditas no Pai Natal!
terça-feira, 23 de setembro de 2014
"É obrigatório gostar de fado!"
- “Porque é que não vamos ao Festival Caixa Alfama?”
- “Fazer o quê”, respondo eu à pergunta do rapaz, acabado de fazer os 7 anos.
- “Ouvir a música”, responde-me ele com um tom paternalista, sem perceber porque é que tinha que explicar o que lhe parecia óbvio.
- “Mas sabes qual é o tipo de música que se ouve no Caixa Alfama?”, digo eu, que não sou grande fã de fado.
- “Sei... é fado.”
- “E tu gostas de fado?” – voltei eu, decidida a levar esta conversa até ao fim.
- “É obrigatório gostar de fado!”, diz ele, com um olhar reprovador na minha direcção.
- “Não achas que o fado é triste?”
- “Não.” – e virou-me costas, como que cansado de falar com alguém que, claramente, não estava ao nível da conversa: eu!
terça-feira, 9 de setembro de 2014
Gostava de ser mulher
"Gostava de ser mulher", diz ele pensativo.
"Mulher?", pergunto eu, sem conseguir esconder a surpresa. "Mas porquê?"
"Porque as mulheres vivem mais tempo do que os homens. Ou então também podia ser vampiro."
"Vampiro?", volto eu a questionar.
"É que esses vivem para sempre e eu gosto muito de viver."
"Mulher?", pergunto eu, sem conseguir esconder a surpresa. "Mas porquê?"
"Porque as mulheres vivem mais tempo do que os homens. Ou então também podia ser vampiro."
"Vampiro?", volto eu a questionar.
"É que esses vivem para sempre e eu gosto muito de viver."
quarta-feira, 6 de agosto de 2014
Preocupações infantis
«Gostava tanto de ser mais magro!», diz ele, indiferente ao facto de ter pouco mais de 20 quilos, de ser, como diz a avó, um "magricela" ou de ter, como o espelho não se cansa de mostrar, as costelas à flor da pele.
«Tu já és tão magro», digo eu, sem saber bem porque é que lhe estou a responder, quando as palavras dele não passam de devaneios, mais uns, a juntar a todos os outros com que nos brinda com frequência.
«Gostava de ter menos barriga...», volta ele. E já sem esperar resposta, pega na revista do Continente, que tem sido companhia durante as manhãs, justificada pelo facto de, como diz, estar decidido a aprender a cozinhar, e concentra-se num artigo que devora, quase sem pestanejar. Só depois é que eu percebo o motivo da preocupação. O rapaz estava a ler sobre... celulite.
«Tu já és tão magro», digo eu, sem saber bem porque é que lhe estou a responder, quando as palavras dele não passam de devaneios, mais uns, a juntar a todos os outros com que nos brinda com frequência.
«Gostava de ter menos barriga...», volta ele. E já sem esperar resposta, pega na revista do Continente, que tem sido companhia durante as manhãs, justificada pelo facto de, como diz, estar decidido a aprender a cozinhar, e concentra-se num artigo que devora, quase sem pestanejar. Só depois é que eu percebo o motivo da preocupação. O rapaz estava a ler sobre... celulite.
quinta-feira, 17 de julho de 2014
The Office, uma série infantil?
- "Mãe, qual é a tua personagem principal do The Office?"
- "Não sei."
- "A minha é o Michael, o chefe."
- "Mas tu percebes alguma coisa do que estás a ver?"
- "Claro. Queres que te explique alguma coisa?"
E pronto, mais uma conversa verdadeiramente rica sobre o mais recente fascínio do rapaz, a série The Office. Mas isso é para a idade deles, perguntarão alguns, tal como eu também já me perguntei diversas vezes. Não, não é, mas eu já desisti de tentar perceber o que é para a idade dele.
- "Não sei."
- "A minha é o Michael, o chefe."
- "Mas tu percebes alguma coisa do que estás a ver?"
- "Claro. Queres que te explique alguma coisa?"
E pronto, mais uma conversa verdadeiramente rica sobre o mais recente fascínio do rapaz, a série The Office. Mas isso é para a idade deles, perguntarão alguns, tal como eu também já me perguntei diversas vezes. Não, não é, mas eu já desisti de tentar perceber o que é para a idade dele.
quinta-feira, 10 de julho de 2014
Porque é que as pessoas fumam
"Porque é que as pessoas fumam?"
A pergunta é recorrente sem que as minhas respostas o satisfaçam. Até porque a questão que ele coloca faz todo o sentido. Mas como lhe possa explicar algo que não tem explicação?
"Nos maços de tabaco diz que fumar mata, que rouba anos de vida, que causa problemas respiratórios... Porque é que as pessoas fumam?" A dissertação começou logo pela manhã. E dado o meu silêncio, decidiu ele avançar com as respostas. "Só há duas hipóteses: ou querem morrer ou então não sabem ler e por isso não entendem o que vem escrito nos maços."
Voltei a optar por ficar calada. É que, para mim, há uma terceira hipótese, mas essa prefiro que seja ele a descobrir: é porque são estúpidas.
A pergunta é recorrente sem que as minhas respostas o satisfaçam. Até porque a questão que ele coloca faz todo o sentido. Mas como lhe possa explicar algo que não tem explicação?
"Nos maços de tabaco diz que fumar mata, que rouba anos de vida, que causa problemas respiratórios... Porque é que as pessoas fumam?" A dissertação começou logo pela manhã. E dado o meu silêncio, decidiu ele avançar com as respostas. "Só há duas hipóteses: ou querem morrer ou então não sabem ler e por isso não entendem o que vem escrito nos maços."
Voltei a optar por ficar calada. É que, para mim, há uma terceira hipótese, mas essa prefiro que seja ele a descobrir: é porque são estúpidas.
quarta-feira, 9 de julho de 2014
silêncio...
Conheço a dor de perder alguém. Mas sendo-me insuportável lidar com ela, torna-se para mim por vezes mais difícil lidar com a dos outros. Por isso, prefiro nada dizer. Até porque nada tenho mesmo para dizer. Em vez de palavras vazia, de frases feitas ou comentários repetidos, prefiro o silêncio. Mesmo correndo o risco de que este seja confundido com frieza.
segunda-feira, 7 de julho de 2014
Eu quero ir a Reykjavik
Eu: "Gostavas de ir ao Festival do Panda?"
Ele: "Quem? Eu? Não, isso é para miúdos."
Eu: "Ok, então não vamos."
Ele: "Onde eu quero ir é a Reykjavik!"
Eu: "Onde?"
Ele: "Reykjavik, a capital da Islândia!"
Eu: "Mas porque carga de água havias de querer ir à Islândia?"
Ele, com toda a certeza conferida pelos seus seis anos: "Porque é um país fascinante!"
Conversa terminada.
Ele: "Quem? Eu? Não, isso é para miúdos."
Eu: "Ok, então não vamos."
Ele: "Onde eu quero ir é a Reykjavik!"
Eu: "Onde?"
Ele: "Reykjavik, a capital da Islândia!"
Eu: "Mas porque carga de água havias de querer ir à Islândia?"
Ele, com toda a certeza conferida pelos seus seis anos: "Porque é um país fascinante!"
Conversa terminada.
segunda-feira, 26 de maio de 2014
Raio de pulseiras
Não digo, porque sou bem educada. Mas mentalmente já mandei para aquele sítio a pessou (ou pessoas) que inventou a moda das pulseiras feitas com elásticos.
quinta-feira, 22 de maio de 2014
Quando o programa preferido dele é o tempo de antena
O que dizer quando uma criança de 6 anos me informa que não pode perder o tempo de antena das Europeias, que classifica como muito interessante? Nada.
quinta-feira, 15 de maio de 2014
O erro, sempre o erro
«Crê que há professores que
estigmatizam demasiado o erro dos alunos?
Claro que sim. Isto porque o que interessa é atingir-se o “perfeito” quando na verdade, os últimos dois ou três anos tem-nos mostrado que não sabemos o que é o mundo perfeito. Mas ainda há aquela ideia – muito veiculada na escola – da “sociedade do sucesso”. Há um autor que é o Gert Biesta que diz que esta “Era da Medida” acabou por valorizar aquilo que se mede esquecendo o verdadeiro sentido daquilo que se deve medir. Medimos sucesso, medimos qualidade, medimos quantidade de aprendizagem, medimos eventualmente qualidade de aprendizagem, medimos conhecimento, mas aquilo que deviamos realmente medir é o que ele chama “uma boa educação”. O Jean Piaget já nos anos 1940 e 1950 – quando trabalhou para a UNESCO – dizia que os erros são extremamente estimuladores do conhecimento e do desenvolvimento da criança. No entanto, desde sempre que nós continuamos a usar borracha e régua nas salas de aula. Usamos a borracha porque o erro é “mau”. No domínio do desenho sabe bem que não se deve usar a borracha, de que temos de transformar o traço, o engano, em algo mais produtivo e criativo. E o mesmo se passa com a régua. Ensinamos em demasiado a utilização da régua mas depois não ensinamos a proporcionalidade. Por exemplo, porquê é que eu preciso de medir 5cm numa folha quando eu tenho como unidade de medida 10cm? É apenas necessário dobrar a folha. É só pensar quanto é que é metade. Tudo isto leva a que os alunos sejam menos criativos.»
Sara Bahia, docente na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa
Claro que sim. Isto porque o que interessa é atingir-se o “perfeito” quando na verdade, os últimos dois ou três anos tem-nos mostrado que não sabemos o que é o mundo perfeito. Mas ainda há aquela ideia – muito veiculada na escola – da “sociedade do sucesso”. Há um autor que é o Gert Biesta que diz que esta “Era da Medida” acabou por valorizar aquilo que se mede esquecendo o verdadeiro sentido daquilo que se deve medir. Medimos sucesso, medimos qualidade, medimos quantidade de aprendizagem, medimos eventualmente qualidade de aprendizagem, medimos conhecimento, mas aquilo que deviamos realmente medir é o que ele chama “uma boa educação”. O Jean Piaget já nos anos 1940 e 1950 – quando trabalhou para a UNESCO – dizia que os erros são extremamente estimuladores do conhecimento e do desenvolvimento da criança. No entanto, desde sempre que nós continuamos a usar borracha e régua nas salas de aula. Usamos a borracha porque o erro é “mau”. No domínio do desenho sabe bem que não se deve usar a borracha, de que temos de transformar o traço, o engano, em algo mais produtivo e criativo. E o mesmo se passa com a régua. Ensinamos em demasiado a utilização da régua mas depois não ensinamos a proporcionalidade. Por exemplo, porquê é que eu preciso de medir 5cm numa folha quando eu tenho como unidade de medida 10cm? É apenas necessário dobrar a folha. É só pensar quanto é que é metade. Tudo isto leva a que os alunos sejam menos criativos.»
Sara Bahia, docente na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa
quinta-feira, 1 de maio de 2014
...os cadilhos
Dizem-me para não me
preocupar, que nada mudou. Mas ainda que pareça assim, tudo está diferente.
Pedem-me o impossível.
Ser mãe é ter preocupações, é pensar constantemente na felicidade dos filhos, é
querer, qual super herói, usar o escudo protector que as mães tão bem conhecem
para evitar que os filhos sofram.
Dizem-me que tudo
vai correr bem. E eu quero acreditar. Mas sei que pode não ser assim. E
sinto-me impotente perante a possibilidade de o ver sofrer mais, porque sei que
já sofre. E sinto-me inútil por não conseguir evitar esse sofrimento. E
sinto-me culpada por deixar que ele sofra, como se dependesse de mim pôr fim a
esse sofrimento.
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014
Quando os olhos enganam
A imagem é tocante: uma criança, sozinha, com um saco de plástico na mão, rodeada por elementos da ACNUR, em pleno deserto da Jordânia. A história, comunicada via Twitter por um dos elementos das Nações Unidas, narava a saga de Marwan, de quatro anos, que se tinha perdido da mãe aquando da fuga de amboas da Síria.
A notícia correu mundo e muitos foram os órgãos de comunicação social que neles pegaram. Mas havia mais do que aquilo que os olhos mostravam. De facto, Marwan estava, naquele momento, sozinho. Mas à frente dele encontravam-se dezenas de outros refugiados e, entre eles, a mãe do menino.
A notícia correu mundo e muitos foram os órgãos de comunicação social que neles pegaram. Mas havia mais do que aquilo que os olhos mostravam. De facto, Marwan estava, naquele momento, sozinho. Mas à frente dele encontravam-se dezenas de outros refugiados e, entre eles, a mãe do menino.
quarta-feira, 8 de janeiro de 2014
Mimado e ainda bem!
"Benditas sejam as crianças mimadas! Aliás, não sei
quem pôs a circular que ser-se mimado seria um obstáculo para se crescer. Mas,
fosse quem fosse, estava enganado. Compreendo que as crianças mimadas, de tão
habituadas estarem a quem as adivinhe, às vezes, pareçam molengonas. E, seja em
relação aos sonhos ou às suas metas, fiquem, mimentas, à espera de quem se
antecipe e fale por elas e, se for possível, dê um... empurrãozinho a tudo o
que desejam. Seja como for, o mimo torna-as mais simples e mais bonitas. E, por
mais que não pareça, são elas quem põe o mundo aos pinotes e o vira do avesso."
Eduardo Sá, in Pais & Filhos
Tenho um filho mimado. É um facto. E é mimado porque, em grande parte, eu adoro dar-lhe mimos. A culpa é, pois, muito minha. Carrego comigo a responsabilidade de ter um filho mimado o que, confesso, às vezes me pesa. Um peso que advém, como tantos outros, das opiniões alheias. Não costumo dar muita importância ao que os outros dizem. Estou mesmo, na maior parte das vezes, a marimbar-me para elas (as opiniões, leia-se), sobretudo a dos 'grandes' entendidos em psicologia/educação/formação infantil. Mas é verdade que dou por mim a questionar se o mimo pode ser em demasia. Fico contente em saber que não. Aliás, no fundo, no fundo, até já o sabia, ou não tivesse também eu sido uma menina mimada. E que bem que me soube o mimo. E continua a saber. Por isso, tenho orgulho em ter um filho mimado. E que muito mais mimo tenha eu sempre para lhe dar.
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