sábado, 19 de março de 2011

Valência: a cidade da pólvora (literalmente)

Eu às vezes pareço uma pessoa muito difícil de contentar. Mas não sou! A sério que não sou. No entanto – e correndo o risco de o parecer -, não é que eu não tenha gostado de Valência. Até achei a cidade muito simpática, uma equilibrada mistura entre o antigo e o moderno, com um brilho que nos faz querer conhecer mais, com muitos jardins e pontes sobre um rio que contrasta com o céu e um sol de quase 30 graus (uma agradável mudança em relação ao frio e pouco solarengo Portugal). E não foi a minha aversão ao calor – como disse, recebi-o com o entusiasmo de uma criança quando lhe é dado um doce - que me fez desgostar da visita recente. Mas fica um conselho: quando se ouve, inúmeras e repetidas vezes, caracterizar uma festa em que o adjectivo usado é o substantivo pólvora é melhor pensar duas vezes em visitar Valência durante Las Fallas.


A não ser que seja realmente um adepto de explosões. Então, nesse caso, aconselho esta zona à beira do Mediterrâneo no mês de Março. É que visitar a cidade nesta altura e acalentar a inocente pretensão de que se vai ter uma noite de sono descansada – ou uma noite de sono, pronto, que eu já nem peço mais – não são duas coisas compatíveis. As explosões constantes, autênticos bombardeios que interrompem a calma da noite, alternando, qual cenário de guerra, entre os sons mais distantes e aqueles que nos fazem bater o coração a um compasso à altura de uma taquicardia digna do nome, tornam-se uma real tormenta.

E enquanto tentava desesperadamente adormecer, com o corpo esticado na cama king size e a cabeça pousada na almofada de plumas, cortesia de um hotel com muitas estrelas, e era constantemente sobressaltada pelos rebentamentos de sei lá o quê e pelos gritos, mais ou menos histéricos, de quem leva esta coisa dos festejos mesmo a sério, só pensava. “É quase meia-noite, isto deve estar a acabar.” Mas a aproximação de uma da manhã, logo seguida pelas duas, só me fez confirmar a suspeita que em vão tentei afastar: aquela gente não dorme! Até que, pouco depois das três da matina, pensei: “Bem, se não os podes vencer, junta-te a eles.” E saltei para junto da janela, onde apreciei o espectáculo de fogo.

Visitar Valência durante Las Fallas é uma experiência única. Mas a mim só me fez mesmo confirmar que, afinal, estou é velha!

P.S. No meio de tanto sofrimento – quatro horas dormidas em duas noites -, fica a agradável surpresa de ter sido confundida com uma miúda de 22 anos. Gilberto, amigo, por causa disto até sou capaz de voltar outra vez a Valência. Mas não no mês de Março.






(Algumas Fallas em que tropecei quando percorria a zona velha da cidade)

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