Ao contrário de todos os que experimentaram surpresa, medo ou pânico, a minha primeira sensação quando soube que tinha havido um tremor de terra foi... alívio. Passo a explicar: quando a terra tremeu eu encontrava-me, como acredito se encontravam outros milhares, quiçá milhões de portugueses, no meu merecido descanso, já a dormir. Mas se a força do abalo não foi suficiente para que percebesse que tinha sido um sismo, deu para me acordar e me pôr em estado de alerta.
Ao contrário do poema, não pensei se teria sido chuva ou vento, mas ia jurar ter sentido um movimento no interior da minha rica casinha, movimento esse que, porque estávamos todos a dormir, só podia ser atribuído a alguém de fora. Crente de que tinha um larápio em casa, e depois de ter tentado transmitir o meu receio, sem qualquer sucesso (há gente que nem que a casa caísse daria por isso), ao ser que comigo partilha a cama, ainda pensei tapar-me até às orelhas e esperar que tudo não passasse de um sonho. Mas, qual heroína de um filme de acção (daqueles meio manhosos, admito, já que nem um alfinete eu tinha para me defender), saltei da cama decidida a enfrentar quem se tinha atrevido a invadir-me o lar.
E lá fui, no meio da escuridão, quebrada aqui e ali pela ténue luz do candeeiro da rua que entrava pelas janelas do hall. Do quarto à casa de banho, da cozinha à sala, do quarto do G. (onde até debaixo da cama espreitei) à entrada do sótão... Nada, nem sinal do intruso.
Depois, voltei para a cama, ainda a tremer (eu, não a casa) e esperei que o assaltante, que acreditava então estar escondido algures por ali, não me atrapalhasse mais o sono. De manhã, quando ouvi falar em sismo, só pensei: ah, que alívio. Foi só mesmo a terra a tremer.
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