terça-feira, 2 de março de 2010

Mentira?

Há quem não consiga esconder o orgulho das suas raízes, quem as apregoe aos quatro ventos, as ostente, as difunda, as exiba... Depois, há os que, como eu, gostavam mais de as enterrar, de as ver desaparecer como por magia, de as apagar. Nem sempre foi assim. Alturas houve, talvez numa fase de afirmação, que não me importava de exibir a minha naturalidade, como se o facto de ter nascido num outro país me tornasse especial. Hoje, pertenço ao segundo grupo, aos envergonhados com a nação de origem e que a trocaram por outra, postiça e adoptada, mas que sentem sua.
Às vezes perguntam-me porquê. E a resposta é tão simples: que motivos tenho eu para me orgulhar de ter nascido num país que me rejeitou, a mim e aos meus, que nos espoliou de tudo, incluindo as recordações, que nos castigou como se culpa tivéssemos de uma guerra que nunca foi a nossa? E apesar de não me lembrar das águas azuis de uma baía sempre quente, das mesas fartas com iguarias por cá difíceis de encontrar, do gosto da cerveja fresca nos dias de calor, das festas constantes ao som de uma batida ardente, não me esqueço da mágoa nos olhos de quem amo ou do ressentimento que fez endurecer alguns corações...
Por isso, quando me perguntam onde nasci, a minha vontade é sempre mentir. Até porque, se sentimos nossa a terra que nos viu crescer, o sentimento de verdade sobrepõe-se a qualquer incorrecção propositada. Acho eu.

2 comentários:

  1. Tens toda a razão... e esta é e sempre será a tua terra!

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  2. há um ditado da minha terra, londres (cof, cof), que diz: Home is where they understand you

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